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Foto do escritorDanielli Orletti

Apolipoproteína A, Apolipoproteína B e Índice apo B/apo A-I

Apolipoproteínas A-I e B


As apolipoproteínas são proteínas ligadas a lipídios nas lipoproteínas, fundamentais para o metabolismo lipoprotéico, incluindo o transporte de lipídios no plasma e a interação com receptores celulares. A apolipoproteína A-I (apo A-I) é a principal componente da lipoproteína de alta densidade (HDL), crucial para o transporte reverso de colesterol ao fígado. A apolipoproteína B (apo B) é predominante nos quilomícrons e nas lipoproteínas LDL, IDL e VLDL, sendo vital para o transporte de colesterol às células. A concentração de apo B reflete o número de partículas aterogênicas, enquanto a de apo A-I está relacionada aos níveis de HDL.


Estudos indicam que as apolipoproteínas A-I e B são preditores mais eficazes de doenças ateroscleróticas em comparação com medições tradicionais de lipídios. O índice apo B/apo A-I, que avalia o equilíbrio entre partículas aterogênicas e antiaterogênicas, é considerado um indicador superior de risco cardiovascular.


Considerações analíticas

As dosagens das apolipoproteínas têm vantagens em relação à quantificação de LDLc, que depende de cálculos que podem introduzir erros. As apolipoproteínas podem ser medidas diretamente no plasma, sem a necessidade de jejum, e com menor influência de variáveis biológicas. No Brasil, a introdução de reagentes nacionais reduziu os custos, aumentando a acessibilidade dos testes.

Índice apo B/apo A-I e doença arterial coronariana (DAC)

O valor preditivo das apolipoproteínas A-I e B para a doença arterial coronariana (DAC) é amplamente reconhecido na literatura. Níveis elevados de apo B, a redução de apo A-I e o aumento do índice apo B/apo A-I têm sido consistentemente relacionados ao risco de DAC.

Quatro estudos prospectivos recentes oferecem evidências significativas sobre a relação entre apolipoproteínas A-I e B e DAC. O Quebec Cardiovascular Study avaliou 2.155 homens canadenses e foi o primeiro a mostrar que a apo B é um preditor mais eficaz do que os índices lipídicos tradicionais. Após 13 anos de acompanhamento, altos níveis de apo B continuaram a ser um fator de risco independente para eventos coronarianos isquêmicos, com uma associação mais forte em homens com níveis de LDLc desejáveis.

No estudo AMORIS, que analisou cerca de 170 mil suecos, a apo B foi identificada como um marcador de risco cardiovascular superior ao LDLc, especialmente em pessoas com níveis de LDLc dentro do desejável, independentemente do sexo. O índice apo B/apo A-I destacou-se como a variável mais fortemente associada ao aumento do risco de infarto agudo do miocárdio fatal, principalmente com níveis lipídicos desejáveis. O estudo também mostrou que o índice colesterol total/HDLc tende a subestimar o risco cardiovascular, enquanto o índice apo B/apo A-I é o mais eficaz para quantificar o risco coronariano em comparação com outros índices.

O estudo INTERHEART, que avaliou cerca de 30 mil pessoas de 52 países, demonstrou que o índice apo B/apo A-I é mais fortemente relacionado à predição de infarto do que vários fatores de risco convencionais, incluindo tabagismo e hipertensão, independentemente de sexo, idade ou origem étnica. O estudo MONICA/KORA acompanhou 1.414 homens e 1.436 mulheres sem histórico de infarto ao longo de 13 anos, evidenciando uma forte associação entre altos níveis de apo B e aumento do risco de infarto, enquanto a elevação de apo A-I não se correlacionou de forma significativa com baixo risco. A análise multivariada confirmou que o índice apo B/apo A-I se associa fortemente ao risco de infarto, mesmo após ajustes para outros fatores de risco.

Em contraste, o Women's Health Study, que avaliou cerca de 15 mil mulheres com mais de 45 anos ao longo de 10 anos, revelou que o colesterol não-HDL e o índice colesterol total/HDLc apresentaram eficácia similar às apolipoproteínas A-I e B, bem como ao índice apo B/apo A-I na predição do risco cardiovascular. Contudo, a apo B destacou-se como o melhor parâmetro isolado para prever eventos cardiovasculares futuros em mulheres.

Embora alguns estudos tenham indicado que níveis elevados de apo B são preditores de risco cardíaco, outros sugerem que esse risco pode estar ligado à diminuição de apo A-I. Contudo, há um consenso na literatura de que o equilíbrio entre partículas aterogênicas e antiaterogênicas, refletido no índice apo B/apo A-I, é um parâmetro adicional crucial para a predição do risco cardiovascular, sendo considerado atualmente superior aos lipídios e índices lipídicos convencionais.

Índice apo B/apo A-I e aterosclerose periférica

A relação entre o índice apo B/apo A-I e aterosclerose periférica é menos estudada, com resultados mistos. Algumas pesquisas indicam que ele pode ser um marcador útil, enquanto outras não encontraram associações significativas.
Índice apo B/apo A-I
Índice apo B/apo A-I

Índice apo B/apo A-I e AVC

O índice apo B/apo A-I também se mostra relevante na previsão de AVC, superando indicadores tradicionais, conforme evidenciado em estudos como o de Bhatia e o AMORIS.

Índice apo B/apo A-I e agentes hipolipemiantes

Os agentes hipolipemiantes, especialmente estatinas, afetam o perfil apolipoprotéico, podendo melhorar o equilíbrio entre apo B e apo A-I. A literatura ainda debate a melhor abordagem para usar esses índices como metas terapêuticas.

Pontos de corte

Valores acima de 0,9 (homens) e 0,8 (mulheres) para o índice apo B/apo A-I estão associados a risco cardiovascular aumentado.

Conclusão

As apolipoproteínas A-I e B, especialmente o índice apo B/apo A-I, são marcadores valiosos para risco cardiovascular, com potencial para monitoramento em pacientes em tratamento hipolipemiante.


Lima, L. M., Carvalho, M. das G., & Sousa, M. O.. (2007). Índice apo B/apo A-I e predição de risco cardiovascular. Arquivos Brasileiros De Cardiologia, 88(6), e187–e190. https://doi.org/10.1590/S0066-782X2007000600014

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